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Recital de violino

Programa

Johann Sebastian Bach [Eisenach, 1685 – Leipzig, 1750]

Ciaccona, da Partita n. 2 para violino solo, BWV 1004

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Flausino Rodrigues Vale [Barbacena, 1894 – Belo Horizonte, 1954]

Batuque para violino solo

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Niccolò Paganini [Gênova, 1782 – Nice, 1840]

24 Caprichos para violino solo, Op.1:

Nº 9 em Mi Maior (A Caça)

Nº 16 em Sol Menor

No. 24 em Lá Menor (Tema con variazioni)

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Sobre o programa

Johann Sebastian Bach [Eisenach, 1685 – Leipzig, 1750]
Ciaccona, da Partita n. 2 para violino solo, BWV 1004
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Baldini nos apresenta o quinto e último movimento da Partita nº 2 em Ré Menor de Johann Sebastian Bach, escrita para violino solo. É considerada uma das mais difíceis e longas peças compostas para tal instrumento, de tal modo que Johannes Brahms afirmava que ela seria a obra mais maravilhosamente incompreendida da história da música. Certamente, Brahms não exagerou, uma vez que a sua profunda e complexa rede de sentimentos e pensamentos a serem trabalhadas e descobertas pelos seus intérpretes fez com que os grandes violinistas dos últimos duzentos anos se debruçassem sobre a peça, extraindo-lhe interpretações distintas, mas não menos similarmente encantadoras.

 

A sua origem motivacional é controvertida entre os estudiosos. Uma corrente que perdurou durante os últimos séculos aponta que Bach a teria composto em memória de sua primeira esposa, Maria Barbara Bach, uma vez que aqueles que defendem tal hipótese encontram no texto melódico sonâncias com materiais para coro associados com o tema da morte. No entanto, como aponta Eric Lewin Altschuler, embora a tese seja a mais difundida, é também a menos creditada. De todo modo, o nível de introspecção psicológica que a Ciaccona nos apresenta, assim como o virtuosismo técnico que a acompanha ofuscam tais debates.

 

Estruturalmente, a música está dividida em três partes: a primeira em Ré menor, a segunda em Ré Maior e a terceira novamente em Ré menor. Sua forma se inspira na antiga dança espanhola do período Barroco, cujo nome se encontra no título do movimento. O tema principal é apresentado ao longo dos quatro primeiros compassos, em seguida Bach os desenvolve em 64 variações nas quais o compositor coloca todo o desenvolvimento técnico, de modo a requerer bastante destreza do intérprete, o que se torna mais trabalhoso diante da densidade sentimental escrita. A maestria bachiana sobre os intervalos aumentados e diminutos, a justa composição que eleva a complexidade performativa com o gradual aceleramento nos primeiros 64 compassos até o uso rítmico das colcheias, passando para semi-colcheias e posteriormente com o lirismo dos arpeggios, profundamente trabalhados com o uso das fusas, chega-se a um apoteose técnica. Mais ao final da peça, o contraste entre o trecho mais acelerado e o mais calmo é uns dos elementos propulsores de expressividade. A retomada do tema principal seguida de seu desfecho melancolicamente penetrante faz-nos entender a conotação maravilhosa que levou Brahms posteriormente a tentar dissolver a incompreensão relatada em um de seus Estudos para piano.

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Flausino Rodrigues Vale [Barbacena, 1894 – Belo Horizonte, 1954]
Batuque para violino solo

 

Flausino Vale foi uma das mais importantes figuras do contexto musical de Belo Horizonte na primeira metade do século XX. Nascido no interior de Minas Gerais, começou a estudar o violino aos 10 anos de idade com um tio e aos 14 anos terminou suas aulas já tocando todos os 24 Caprichos para violino solo de Niccolò Paganini. Foi advogado, poeta e grande pesquisador sobre o folclore nacional, tendo lançado em 1936 o livro Elementos de folclore musical brasileiro. Esse interesse pelos elementos da cultura brasileira, claramente em consonância com o movimento modernista que se desenvolvia em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, e pelos temas caipiras, com respeito à sua origem do interior de Minas, se reverteram em sua obra violinística.

 

Neste programa se encontra o primeiro prelúdio dos 26 compostos pelo compositor. Infelizmente Vale não teve a oportunidade de vê-los todos publicados em vida, mas certamente a redescoberta de seu trabalho e sua propagação faz justiça a uma das mais importantes figuras da música brasileira do último século. Heitor Villa-Lobos chegou a chamá-lo de Paganini brasileiro após ouvi-lo tocar.

 

O Batuque para violino solo foi dedicado a Jacinto de Méis e data de 1922, recebendo uma revisão em 1946. Ele apresenta a estrutura típica dos “batuques-de-viola” caipiras, danças de compasso binário simples com variações rítmicas bastante marcadas. Formalmente, ele está dividido em três partes uma introdução de andamento allegro, uma seção de andamento presto e finaliza com uma codetta.

 

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Niccolò Paganini [Gênova, 1782 – Nice, 1840]
24 Caprichos para violino solo, Op.1:
Nº 9 em Mi Maior (A Caça)
Nº 16 em Sol Menor
No. 24 em Lá Menor (Tema con variazioni)


Niccolò Paganini é considerado o mais virtuoso violinista de sua época, e, como afirma Sergio Molina, grande parte de sua excelência compositora se deve ao fato de que o seu alto conhecimento do violino conjuntamente com sua vontade de aprofundar a sua interpretação, levaram-no a buscar na composição as suas necessidades como intérprete. Nesse contexto de desenvolvimento da expressividade do seu instrumento, o que mais tarde fez com que muitos acreditassem que Paganini tinha alguma relação com o próprio diabo, observa-se a riqueza para a história da música de seus 24 Caprichos.

 

Paganini os compôs durante sua estadia na corte napoleônica de Lucca entre 1801 e 1809. Segundo Jeffrey Perry, é possível que ele tenha composto o opus 1 para mostrar sua capacidade como compositor focado e versátil, em busca de uma promoção ao cargo de Maestro di capella. Mas certamente a obra desempenhou um papel além, conforme indica Perry, servindo como um avant-garde de seu espetacular estilo.Das obras que compilam seus 24 Caprichos, serão apresentados os números 9, 16 e 24.

 

O Capricho nº 9 é uma espécie de reformulação romântica do rondo clássico. A sua estrutura formal, com trechos mais agudos e outros mais graves, representam a contraposição das texturas da flauta e da trompa. Elas na verdade guardam um sentido íntimo com o nome pelo qual o capricho é conhecido: A Caça. A música conta a história de um encontro entre uma pastora e um caçador, sendo que a textura da trompa representa aquela que o caçador carrega. A oposição também se revela na contraposição da doçura, passividade e inocência da moça em detrimento da aspereza do caçador. Em certos momentos, a fusão de ambas texturas representa a convergência discursiva dos personagens.

 

O Capricho nº 16 é um exemplar de maestria técnica. De compasso ternário, contendo somente semicolcheias e de andamento presto; consiste em uma execução contínua de 16 notas. Dividido em duas partes, na primeira é apresentado o tema com um ritornelo. A segunda parte é contínua com elaboradas passagens cromáticas, arpeggios e escalas crescentes que culminam no desfecho da peça.

 

O Capricho nº 24 é certamente o mais complexo dos anteriores. Nele, Paganini depositou todo o esforço empreendido no estudo do violino, conseguindo aglutinar em 4 minutos técnicas como oitavas paralelas, rapidíssimas mudanças de escala, de intervalos, com arpeggios e inclusive pizzicato tocado com a mão esquerda. A peça apresenta o tema principal nos primeiros compassos e desenvolve-o em 11 variações. Cada tema das variações, assim como o principal possui um ritornelo, cuja sequência é um curto desenvolvimento da mesma variação ou, no primeiro caso, do próprio tema principal. A riqueza condensada foi de tamanha importância que influenciou inúmeros compositores, indo desde Liszt até Rachmaninov, o qual compôs a famosa Rapsódia Sobre um Tema de Paganini em lá menor, opus 43, para orquestra e piano.

 

Pedro Guilherme Barbosa

Artista

É spalla da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e membro fundador do Quarteto
de Cordas OSESP. Venceu o concurso Virtuositè de Genebra e o primeiro prêmio do Fórum Junger Künstler de Viena. Foi spalla da Orquestra do Teatro Comunale de Bolonha e no Teatro Giuseppe Verdi de Trieste, atuando também como concertino na Orquestra do Teatro alla Scala, de Milão. Como solista, tocou com a Rundfunk Sinfonieorchester Berlin, a Orchestre de la Suisse Romande, a Wierner Kammerorchester, a Flanders Youth Philharmonic Orchestra, a
Orquestra Estatal da Moldávia e a Orquestra do Teatro Giuseppe Verdi de Trieste. É Diretor Artístico da Orquestra de Câmara de Valdivia (Chile) .

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